terça-feira, 14 de abril de 2015

Intervenção do Deputado Duarte Moreira no Debate de Urgência sobre “A agricultura nos Açores: da falta de estratégia ao fim das quotas leiteiras”, apresentado pelo Grupo Parlamentar do CDS-PP


Senhora Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores,
Senhoras e Senhores Deputados,
Senhora (s) e Senhores Membros do Governo

No passado dia 1 de Abril de 2015, iniciou-se uma nova fase da Politica Agrícola Comum. Uma fase que poderemos chamar de pós quotas de leite, regime instituído em 1984 para fazer face à acumulação de excedentes de produtos lácteos que se verificava na europa e que visava a estabilidade da produção em todo o território da União Europeia e a adequação da oferta à procura.

Na audiência do Parlamento Europeu de 27 de Janeiro de 2015, em que esteve presente, por iniciativa do Eurodeputado Ricardo Serrão Santos, uma delegação nacional representativa do sector lácteo, e da qual fizeram parte diversas pessoas ligadas à produção e transformação dos Açores, e em que o GPPS teve também a oportunidade de participar, todos os especialistas, incluindo o Conselho Europeu do Leite, foram de opinião que o chamado pacote do leite falhou, ficando claro que o problema dos excedentes do leite, motivado pelo embargo russo e pela diminuição das importações da china, são um problema à escala europeia, onde os preços têm vindo a diminuir significativamente em todos os países.

Em 2014 o preço do leite caiu 11% em média, havendo países em que essa quebra foi de 20%, como a Bélgica, ou mesmo 40% na Estónia.
Outro problema identificado por diversos sectores da EU, referem a venda de leite, pela distribuição, abaixo do preço de sustentabilidade, havendo superfícies a vender leite de marca abaixo dos 0,41€/litro.

A nível internacional há igualmente alguma volatilidade nos preços do leite e produtos lácteos. De acordo com o relatório do Rabobank, os preços dos lacticínios estão abaixo dos níveis sustentáveis a médio prazo, em que a procura mundial está a ser influenciada por uma série de fatores negativos que incluem o lento crescimento económico, o embargo da Rússia, o fraco interesse de compra da china, moedas menos valorizadas nos mercados emergentes, tendência que parecem persistir no ano de 2015, apesar da recente mas ligeira melhoria.

O banco aponta ainda que a china será a única grande influência no balanço do mercado global durante o presente ano.

O Índice de preços dos produtos lácteos da Organização das Nações Unidas para a Agricultura (FAO), era em Outubro de 2014 26,6% abaixo dos números do ano anterior.
O conhecimento e as referências à situação mundial e da UE, em particular, levam-nos a perceber e a enquadrar a situação do sector nos Açores, sendo apenas por demagogia ou má-fé ou estratégia eleitoralista, não reconhecer esta situação, atribuindo à política regional as dificuldades com que a fileira está confrontada.

Com o cenário internacional dos produtos lácteos e com a situação criada na Europa, pela liberalização total da produção, facilmente se compreende que uma Região, qualquer Região, que produza mais de 30% da produção de um país, em que 80% da sua produção é vendida para fora do seu território, como acontece com os Açores, que haja impactos negativos num cenário de crise europeia, como considera o European Milk Boad, muito embora esta crise não seja, ainda, reconhecida pela Comissão Europeia.

A Região tem vindo a investir de forma assertiva e a fazer tudo o que está ao seu alcance para a sustentabilidade do sector agro-pecuário dos Açores, como demonstra a notável reestruturação ocorrida nos últimos anos.

As explorações dos Açores, em virtude da sua viabilidade económica, foram aquelas que entre 1999 e 2009 registaram maiores ajustamentos, com a SAU média por exploração a aumentar 41%;

Na Região a população agrícola é consideravelmente mais jovem do que a nacional;
Os Açores destacam-se ainda pela produtividade alcançada de 30,4 mil euros por Unidade Trabalho Ano (UTA), quase duas vezes e meia superior à média nacional;

A produção de leite aumentou 9,2% nos últimos 10 anos, tendo o número de produtores diminuído 39% e a produção média por exploração aumentado para o dobro.

A produção de leite UHT triplicou na última década, tendo a produção de queijo aumentado 12% no mesmo período.

A diversificação da produção dos lácteos, não sendo ainda a ideal, tem vindo a crescer graças também ao investimento na modernização das indústrias.

O preço do leite pago ao produtor, até ao início de 2014, cotava-se a níveis do continente Português o que aconteceu pela primeira vez em mais de 10 anos.

O fim do regime de quotas é uma realidade, sendo o cenário de aumento de produção por parte de vários países o mais provável.
O momento é pois de natural preocupação e incerteza, mas o momento é também o de cerrar fileiras e de acreditar que temos capacidade e a sabedoria de ultrapassar este difícil desafio, para a qual todas as forças políticas devem estar unidas por um objetivo superior.
Não havendo varinhas mágicas, a solução passa por continuar a trabalhar a vários níveis, desde logo ao nível da UE, na implementação de medidas de monitorização do sector, que permitam uma gestão do abastecimento, que crie e implemente um sistema de segurança para os momentos de crise, que garanta um “seguro” para o rendimento dos produtores.
Há que continuar a trabalhar, aos vários níveis desde o Parlamento e o Conselho Europeu, a REPER, passando pela conferência de Presidentes das RUP, no sentido de ter uma atenção particular para Regiões, como os Açores, cuja importância do sector é transversal a toda a sua economia e a toda a sociedade.
Refira-se, a propósito, que a Conferência de Presidentes das Regiões Ultraperiféricas da União Europeia alertou, recentemente, por iniciativa e inclusão na agenda por parte da RAA, para os “graves impactos” relacionados com o fim do regime de quotas leiteiras que “já se fazem sentir nos Açores”, nomeadamente a descida do preço pago à produção, manifestando, por isso, “forte preocupação” quanto ao futuro,
Nesse sentido, solicitam “urgentemente à Comissão Europeia, ao Conselho e ao Parlamento Europeu a definição de mecanismos reguladores e um apoio financeiro excecional ao conjunto das fileiras agrícolas das RUP confrontadas com a liberalização dos mercados”.

Mais recentemente, já neste mês de Março, o Governo dos Açores viu aprovado pela Comissão de Recursos Naturais do Comité das Regiões, um conjunto de propostas que fez ao parecer sobre “O Futuro do setor do leite” salvaguardando a especificidade dos açores face ao fim do regime de quotas leiteiras.

Sendo o POSEI um programa fundamental para as produções dos Açores, é necessário demonstrar a importância de um reforço do envelope financeiro do mesmo, para diminuir os impactos do fim das quotas de leite na Região, bem como a criação de um sistema que seja automaticamente acionado quando forem atingidos determinados limites mínimos de preço do leite que coloque em causa a sustentabilidade do sector, tendo em conta os custos de produção.

A nível Nacional, há que criar um verdadeiro código de boas práticas da distribuição, que regule a relação entre os fornecedores e a distribuição, os prazos de pagamento, os custos de comercialização, evite preços abaixo do custo, a obrigatoriedade de uma clara identificação da origem dos produtos lácteos e simultaneamente estabelecer medidas que concedam à defesa da cadeia alimentar a capacidade de multar a grande distribuição que viole esse código de conduta, à semelhança do que está a acontecer noutros países da EU, posição coincidente com a recente manifestação de intenção do Comissário Phil Hogan, que disse pretender introduzir legislação que garanta o justo preço pago aos produtores e evite práticas comerciais desleais praticadas pela distribuição.

A nível Regional, há que continuar a investir, como até aqui, de forma a reforçar a competitividade do setor, nomeadamente nas acessibilidades, fornecimento de água e energia, na diminuição dos custos de produção, na modernização das explorações, na valorização dos produtos, na sua diferenciação e qualidade, trabalhando os mercados que mais valorizem os nossos produtos.

De realçar o enorme investimento publico levado a efeito pelos governos do PS no sector.
Foram, no último QCA, bastante significativos os investimentos efetuados nas explorações leiteiras açorianas, e que beneficiaram cerca de 1000 produtores.

Por outro lado, a Região tem vindo, também, a apoiar investimentos na indústria de transformação. Esta aposta levou a que, por exemplo, no período de programação 2007-2013 se direcionassem para as agroindústrias regionais cerca de 50 milhões de euros de fundos comunitários, gerando um investimento global superior a 90 milhões de euros.

O Governo dos Açores decidiu, também, reforçar, no âmbito do POSEI, a dotação do prémio aos produtores de leite em mais cerca de 2 ME/ano, sem prejuízo das outras áreas.
No âmbito do PRORURAL +, recentemente aprovado, foram propostas pela Região e aceites pela Comissão Europeia algumas medidas com grande impacto no setor agrícola e agroalimentar, como por exemplo: o apoio ao investimento nas explorações agrícola vai ter taxas de apoio superiores às do programa que apoiará os agricultores em Portugal Continental.

De facto, no Quadro Comunitário 2014-2020, as taxas de cofinanciamento para investimentos nas explorações agrícolas situam-se entre os 50 e os 75%, quando no continente são de 30 a 50%.

O GRA reforçou, no Plano para 2015, em cerca de 64% as verbas destinadas às infraestruturas de apoio à agricultura (caminhos, abastecimento de água e eletrificação), tendo em vista a redução de custos de exploração e o aumento dos rendimentos.
Procedeu ainda ao reforço de 45% das verbas previstas noutra ação do Plano, destinadas à abertura e, essencialmente, à manutenção da rede de caminhos rurais, que é atualmente de cerca de 1.500 quilómetros em todo o arquipélago.

Entretanto, a Marca Açores vai contribuir para a afirmação e valorização dos produtos agroindustriais açorianos nos mercados, associada que está a uma imagem de qualidade de produção.

Há também o desafio para que as indústrias reforcem o nível de diversificação de produtos com valor acrescentado e de aposta convicta na qualidade, procurando novos mercados, continuando o caminho trilhado até este momento.

Senhora Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores,
Senhoras e Senhores Deputados,
Senhora (s) e Senhores Membros do Governo
Perante os desafios do setor, torna-se necessário, diria que fundamental, reforçar as relações entre a produção, transformação, e a distribuição, não podendo uns viver sem os outros, pelo que o grupo parlamentar do PS considera estratégico um entendimento alargado a toda a fileira, que trate um conjunto de matérias comuns, transversais e estratégicas na defesa e promoção do sector lácteo Regional, e de que o recente Fórum do leite, promovido pelo Governo dos Açores, foi um primeiro passo.

O caminho trilhado até aqui pela Região, pelos seus agricultores e industriais leva-nos a ter confiança que saberemos ultrapassar os desafios do presente e do futuro.

Quem cria alarmismos, quem está sempre a dizer que o setor está condenado, quem não acredita nas nossas potencialidades e muito em especial quem não acredita na capacidade dos produtores e industriais para ultrapassar estes difíceis desafios, está a prestar um péssimo serviço aos açores, está a puxar para trás, como é o caso de alguns partidos da oposição.
Da parte do PS e certamente do Governo dos Açores, conscientes das dificuldades, mas conscientes das nossas potencialidades e do trabalho desenvolvido, os produtores podem esperar sempre a procura de soluções, que em diálogo permanente com toda a fileira nos levarão a ultrapassar mais este desafio!

Disse!
Horta, Sala das Sessões, 14 de abril de 2015

O Deputado Regional

Duarte Moreira

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