quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Qualificação e Certificação de produtos


Por Duarte Moreira
Deputado Regional PS-Açores


A certificação dos produtos regionais com Denominação de Origem Protegida (DOP) ou Identificação Geográfica Protegida (IGP) está, desde 1992, sujeita a um conjunto de regras comunitárias que visam promover as produções e os produtos agroalimentares que, pelas suas condições particulares de produção se distinguem de produtos similares existentes no mercado, com uma forte ligação à sua origem geográfica, tendo como princípios base, reforçar a lealdade das transações, respeitar a concorrência leal, contribuir para a melhoria do rendimento dos respetivos produtores e fixação da população nas zonas rurais e para a salvaguarda da genuinidade e reputação dos produtos.

Estes são os fins, objetivos e as justificações constantes dos próprios regulamentos em vigor sobre a matéria de certificação de produtos, cuja autoria, portanto, não sendo nossa, não deve ser apropriada como alguns fazem crer.

Curiosamente, o deputado do PSD-Açores, António Ventura – que nos seus escritos apenas transcreve o que outros escrevem e que nas últimas intervenções públicas de alguns colegas de partido tem sido apresentado como o elemento mais credível na Região para ser o futuro Secretário Regional da Agricultura dos Açores – com o artigo que fez publicar do dia 24 de Janeiro, continua a demonstrar um total desconhecimento dos temas do setor, como acontece com a questão da certificação dos produtos açorianos.

A demonstração da total ignorância sobre a matéria da certificação dos produtos resulta desde logo da sua afirmação de que cabe ao Governo Regional avançar com estes processos quando os regulamentos são claros ao dizerem que só os agrupamentos de produtores podem apresentar pedidos de registo de uma IGP ou de uma DOP e que tal pedido só pode ser relativo a produtos agrícolas ou géneros alimentícios por eles produzidos ou obtidos.

Para que se fale verdade e se esclareçam os leitores (e já agora o próprio deputado António Ventura, constantemente traído por um irritante frenesim político), após uma candidatura para a certificação de um produto, seguem-se a elaboração de um Caderno de Especificações, do qual devem constar informações sobre o nome do produto agrícola ou do género alimentício, a delimitação da área geográfica e os elementos que provam que o produto é originário da área geográfica delimitada referida.

É ainda necessária a descrição rigorosa e fundamentada do método de obtenção do produto agrícola ou do género alimentício, da relação existente entre as suas qualidades e características com o meio geográfico. E não basta alegar a evidência da singularidade do produto agrícola ou do género alimentar. De facto, é absolutamente necessário fazer prova da singularidade e especificidade do produto ou género alimentar e verificar regras próprias de rotulagem, entre muitos outros requisitos.

Claro que, com o frenesim daquele senhor deputado, todos os resultados seriam obtidos no espaço de dias ou mesmo de horas. E todos os processos seriam do governo ou impostos pelo governo aos produtores, houvesse ou não agrupamento de produtores constituídos e com condições para os desenvolver!

Felizmente que a responsabilidade destes processos de certificação está atribuída aos agricultores e aos técnicos que os acompanham, nomeadamente dos serviços oficiais, que preferem obter elementos credíveis para fundamentar e sustentar as suas iniciativas do que ficcionar factos ou vender ilusões.

Felizmente que os processos de certificação são cuidadosamente programados e elaborados, por forma a dar cumprimento e seguimento ao normativo existente, garantindo que os resultados finais sejam fiéis, verdadeiros e aqueles que melhor servem os interesses dos produtores e dos produtos açorianos e que garantam os desígnios do consumidor mais exigente.  

Por fim, e como deveria ser do conhecimento do deputado do PSD-Açores, todo o processo é endereçado ao Governo da República que posteriormente e após análise o fará chegar às entidades comunitárias responsáveis pela decisão final.

Será possível haver um deputado que se dedica a falar destas coisas quando delas pouco ou nada sabe?

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