sábado, 19 de janeiro de 2013

Projeto de Resolução 4/X - Recomenda ao Governo da República que desenvolva as diligências necessárias no sentido de efetivar rapidamente a transferência da posse dos terrenos do domínio público e respetivos edifícios e infraestruturas, não afetos à atividade aeroportuária, gerido pela ANA, SA, no concelho de Vila do Porto

Sentido de Voto do GGPS – Intervenção de Bancada
 
Senhora Presidente
Senhoras e Senhores Deputados
Senhor Presidente
Senhora e Senhores Secretários
É com agrado que vejo ser discutido um assunto tão importante para ilha de Santa Maria como este da transferência dos terrenos do Aeroporto para posse da Região. É com agrado, mas também com pesar, porque em pleno ano de 2013, passados que estão mais de um ano e meio após a celebração de um protocolo que define os termos e condições de passagem desses terrenos, parque habitacional e demais infraestruturas para posse da Região, não deveríamos estar nesta Casa a discutir esta questão, porque de facto é um assunto que já deveria estar resolvido há muito.
Permitam-me que faça aqui um breve historial sobre esta questão.
Em Maio de 2011 foi assinado um Protocolo entre o Governo dos Açores, a autarquia de Vila do Porto e o Governo da República do PS, através da empresa ANA, SA, que definia os termos e as condições em que seria realizada a desafetação de bens imóveis do domínio público aeroportuário, designadamente os terrenos, o parque habitacional e infraestruturas não operacionais, para o domínio privado da Região.
Refira-se que este foi um protocolo conseguido fruto do empenho e persistência do Governo Regional dos Açores liderado por Carlos César e que correspondia a uma aspiração já antiga dos marienses, em especial, das famílias que habitam nesse parque habitacional.
Estamos a falar de cerca de 200 habitações, das quais 58 se encontram devolutas, em que habitam mais de 900 pessoas, que aí residem há muitos anos e que anseiam em ter a oportunidade de adquirirem essas moradias, para as reabilitarem e criarem melhores condições de habitabilidade, em muitos casos.
Esta necessidade decorre do total desinvestimento que a empresa ANA, SA dotou também o seu parque habitacional e cuja gestão é responsável desde 1978, não investindo na manutenção das habitações, nem nas vias de acesso, que em alguns casos se apresentam praticamente intransitáveis.
Foi necessário que o Governo dos Açores realizasse repavimentações em alguns troços de estrada, de forma a mante-las transitáveis, como foi o caso da Estrada de Baixo, que é muito utilizada pelos marienses.
Anteriormente já o Governo Regional tinha protocolado com a ANA, SA a limpeza de terrenos da zona envolvente ao Aeroporto de Santa Maria, exportando toneladas de resíduos metálicos que aquela empresa foi deixando acumular durante anos, requalificando áreas e erradicando lixeiras.
Também nas redes de saneamento, essa falta de investimento foi notória e evidente durante muitos anos. Só nos últimos anos e com a perspetiva de transferência de terrenos para a Região e privatização da empresa, é que alguma coisa foi feita, mas mesmo assim nunca chegou a ser construída a ETAR prevista desde há muito para substituir a fossa séptica completamente obsoleta que existe na zona AR do Aeroporto e que recebe todas as águas residuais produzidas pelo parque habitacional e demais infraestruturas que existem naquela zona.
Muitos outros investimentos poderiam ter sido canalizados e desenvolvidos pela empresa ANA, SA nos terrenos disponíveis, mas claramente os objetivos da empresa e dos seus dirigentes nos Açores foram outros e não passaram claramente pela rentabilização do Aeroporto de Santa Maria e terrenos anexos. 
Por isso, foi com muito agrado que os marienses viram ser celebrado um acordo entre as várias partes interessadas, tendo sido, deste modo, criadas espectativas muito elevadas, em especial pelos moradores do Aeroporto.
Senhoras e senhores Deputados
Para que o acordo celebrado tivesse validade, teria que ser decidido em Conselho de Ministros a promulgação do mesmo e a consequente publicação de um Decreto-Lei com os termos e condições definidas no Protocolo.
Os marienses aguardaram.
Depois, houve eleições para a Assembleia da Republica, constituição de novo Governo, e os marienses esperaram.
Foram surgindo problemas muito graves para resolver no País, a ajuda externa, o FMI, os cortes nos ordenados e nas pensões, o aumento de impostos e os marienses sempre a aguardar que chegasse a sua vez!
O Governo Regional, através da Vice-Presidencia, oficiou inúmeras vezes o Governo da Republica a solicitar o agendamento urgente da matéria em Conselho de Ministros com vista à promulgação do Protocolo, desenvolveu contatos telefónicos com membros do Governo da Republica no sentido de os sensibilizar para a necessidade urgente de se resolver o problema. Inclusive, em Janeiro de 2012, foi transmitido à vice-presidencia que o assunto tinha sido encaminhado para o Ministério da Economia, para agendamento em Conselho de Ministros, situação que ainda não aconteceu até à data. O então Presidente do Governo Regional Carlos César reuniu com o Primeiro-Ministro Passos Coelho e abordou esta questão, tendo o mesmo assegurado que a situação seria para resolver em breve. Isto em Julho de 2012.
Entretanto, durante o mês de Maio do mesmo ano, sabe-se que a empresa ANA, SA dá parecer positivo à desafectação de toda a área em questão da sua gestão, considerando que será benéfico para a empresa.
Já nesta Legislatura o Senhor Secretario Regional do Turismo e Transportes reuniu com a Secretaria de Estado dos Transportes e empresa ANA, de modo a pressionar-se para a resolução do problema.
Em finais de 2012, e porque a questão é suprapartidária, Conselho de ilha decidiu constituir um grupo de trabalho no sentido de abordar as questões do Aeroporto de Santa Maria, incluindo a não transferência dos terrenos e parque habitacional para posse da Região.
Nesse âmbito, a 28 e 29 de Novembro, deslocou-se a Lisboa uma representação desse grupo de trabalho, Presidente do Conselho de Ilha, Presidente da Assembleia Municipal e Presidente de Câmara Municipal, bem como os deputados do PS eleitos por Santa Maria, para realizar uma reunião com o Senhor Secretario de Estado dos Transportes e com o Presidente do Conselho de Administração da empresa ANA, SA.
Permitam-me que vos transmita o facto de ter, eu própria, questionado diretamente o Senhor Secretário de Estado sobre a matéria, solicitando que me esclarecesse sobre a razão do atraso na publicação do Decreto-Lei em questão e sobre o timing previsto para a resolução do problema.
A resposta foi breve, mas clara:
- Que a questão ainda não estava resolvida porque a sua resolução poderia interferir com as eleições regionais de 2012, que entretanto ocorreram;
- E que nas próximas duas ou três semanas (a partir da data da reunião) os documentos iriam entrar no sistema de gestão documental do Governo da Republica e que o assunto estaria resolvido até ao final do ano de 2012.
Sobre esta resposta o que é lamentável, é que para tentar prejudicar o PS e ganhar votos, o Governo da Republica atrasou propositadamente o processo de transferência dos terrenos, esquecendo-se dos marienses e das suas pretensões.
Dizer também que já estamos em 2013, o ano de 2012 já lá vai há mais de 15 dias, todos os dias saem publicações de Decretos-Lei e os marienses continuam à espera que o Governo da Republica agende em Conselho de Ministros a promulgação de um Protocolo e a publicação de um diploma que efetive a transferência de terrenos, parque habitacional e demais infraestruturas para posse do Governo dos Açores e, consequentemente, atribuição das habitações aos moradores.
De facto, os marienses estão fartos de esperar!
Senhoras e senhores deputados 
Mas nós, GPPS e GRA, não ficamos parados à espera do Governo da Republica. Fomos fazendo a nossa parte.
Apresentamos uma proposta de alteração ao plano de investimentos de 2011 que previa a realização de um plano de ordenamento das zonas envolventes ao Aeroporto de Santa Maria.
Ora, esse plano foi elaborado através da empresa Ilhas de Valor, encontrando-se a aguardar a efetivação da transferência dos terrenos para a Região para que a ante-proposta de Plano de Ordenamento entre em discussão pública, porque quer o GRA, quer o GPPS, consideram que é muito importante que os marienses tenham a possibilidade de contribuir e opinar sobre os pressupostos e objetivos do mesmo, de um forma aberta e clara.
Foi ainda iniciada a elaboração de um regulamento de atribuição de moradias constantes do parque habitacional em causa.
Por isso, como podem ver, o GRA não ficou parado, foi fazendo a sua parte, e se cada um tivesse feito a sua parte, tudo teria corrido bem e não estaríamos a discutir esta questão nesta Casa.
Por fim, gostaria de lamentar que o Governo da Republica ainda não tenha percebido que a simples promulgação de um Protocolo celebrado há mais de um ano e meio, ainda era Primeiro-Ministro, José Sócrates, traria benefícios claros em termos económicos à ilha de Santa Maria, já que poderia ser um polo dinamizador da construção civil local, tendo em conta que os novos proprietários das habitações iriam, certamente, querer melhorá-las, recorrendo às empresas locais.
Porque todos os esforços, todas as diligências, são importantes para tentar resolver-se o problema e pressionar-se o Governo da Republica para a necessidade de resolução urgente da questão, o GPPS irá votar favoravelmente a iniciativa do PCP.
 
Sala de Sessões, Horta, 17 de Janeiro de 2013.
 
A Deputada Regional do Grupo Parlamentar do Partido Socialista
 
Bárbara Torres Chaves  

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